sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Vida extraterrestre e tudo mais

[Originalmente publicado no blog Bule Voador]

A busca por vida no universo é, talvez, um dos melhores exemplos da nossa humildade combinada com curiosidade. Afinal, alguém poderia perguntar: Por qual razão seres conscientes da sua própria existência dedicariam tempo e recurso na investigação de algo que não há garantias de sucesso?

Algumas pessoas fixam-se excessivamente com o compromisso do resultado, esquecendo ou menosprezando o progresso. Ao longo dos anos — motivados pela paixão e atraídos pelo desconhecido –, os cientistas trouxeram à tona informações preciosas do nosso local no cosmos. Tomando os últimos 450 anos, qualquer um que se aventurar a explorar os detalhes destas descobertas ficaria sem fôlego: Coisas que hoje nos parecem banais eram frequentemente entendidas através de especulações que transitavam entre o plausível e a superstição. Quem não lembra da ideia defendia por exploradores de que no final do horizonte do mar haveria uma queda rumo a morte? Não muito tempo atrás achava-se que os canais em Marte teriam sido feitas por uma civilização extraterrestre tecnológica com intuito de irrigar suas plantações. Há três décadas atrás não haviam planetas descobertos que não fossem os do próprio sistema solar. Nosso sistema, pensava-se, era único; não seria concebível imaginar planetas fora da galáxia. Em pouco mais cem anos atrás muitos sequer imaginavam que outras galáxias pudessem existir. Todas essas questões — e suas respostas–, apareceram numa fração diminuta do tempo desde que a vida surgiu na Terra. Colocando as coisas em perspectivas, não deixa de ser espetacular que somos a primeira espécie na Terra — algo como os últimos 15 segundos antes da meia-noite do dia 31 e Dezembro do calendário cósmicos, onde 1° de Janeiro é o nascimento do universo –, com a capacidade de satisfazer as inquietações intelectuais que o próprio universo nos convida a serem perguntadas. Somos uma parte do cosmos que tomou consciência e inteligência o suficiente para perscrutar perguntas até então inéditas na história do planeta.

Algumas dessas informações são úteis para a humanidade toda, não apenas para saciar a curiosidade de mentes inquietas. Foi com a exploração espacial que descobrimos um efeito estufa descontrolado no nosso vizinho mais próximo (Vênus), e que serve de aviso para nossa espécie reforçar os esforços que combatam a degradação ambiental. O advento necessário de novos satélites e telescópios trouxeram tecnologias maravilhosas para todos. Muito do impulso tecnológico de miniaturização de câmeras dos celulares modernos foi possível como uma espécie de coproduto da exploração realizada por nossas agências espaciais. Não seria maravilhoso que mais e mais tecnologia pudesse ser extraída para o nosso conforto que viesse desse tipo de atividade? Muito melhor que a humanidade obtenha benefício das suas ações criativas em detrimento das destrutivas. Guerras também geram tecnologias. Não deixaremos de usá-las por isso; entretanto não deixa de ser um pouco incômodo que há concorrentes produtores de tecnologias defendendo valores mais plurais e producentes– e que estão fazendo o trabalho de maneira mais humana.

O mistério é atualizado conforme as dúvidas da atualidade são outras. E talvez sejam bobas para o estudante do futuro: Há vida no nosso sistema solar? Qual a dificuldade do aparecimento da vida em outros cantos do universo? O que está acontecendo, nesse exato momento, naquela estrela misteriosa a 1500 anos luz de distância da Terra? Uma vez ter identificado vida tecnológica, seria possível algum diálogo? O recado é simples: Nenhuma pergunta é idiota, e não fazê-las é precisamente algo que caracteriza a idiotice.

Muitas vezes, a superstição e o dogmatismo insistem em substituir nossos métodos racionais de investigação. Em doses moderadas, é possível conviver com a superstição, mas não com o dogma. Se estivermos disposto a aceitar cegamente a palavra da autoridade ou alguma mensagem revelada em detrimento da livre investigação acompanha do escrutínio, não podemos garantir que nosso futuro será o de preservação da humanidade. É por isso que uma das razões que motiva a busca por vida extraterrestre é a possibilidade de descobrir um pouco mais sobre nós mesmos.

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