segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Mulheres na ciência

                                                                                      Originalmente publicado no blog Bule Voador

É lastimável a opinião que considera opções profissionais como sendo uma caixinha "para homens" e outras "para mulheres". E toda iniciativa que tenha algum efeito real de minimizar isso é bem-vinda. É nesse contexto que tem sido comum a consciência que há proporcionalmente menos mulheres do que homens na ciência brasileira. Isso parece ser verdade. Só que também parece ser verdade que nunca esteve tão fácil o acesso das mulheres aos cursos de exatas.
A tese levantada por muitos nem sempre reconhece isso, e vai além: Uma das causas, talvez a principal, é devido a alguma coisa que é alimentada pela cultura. Em alguma extensão tem sido popular a ideia que o sexismo é um dos fatores predominantes que acabam desestimulando mulheres a buscarem carreiras científicas. Embora eu conceda que isso possa ser um dos fatores, eu disputo a ideia que seja o principal.
Há hipóteses competitivas que podem dar conta de responder a discrepância. Uma maneira de responder isso com mais objetividade seria fazer um levantamento de quantas pessoas autodeclaradas mulheres entram em cursos de exatas e após os semestres iniciais desistem ou trocam de curso. Suponho que a troca voluntária de curso e/ou desistência seja mais expressiva entre as mulheres em comparação ao público masculino. Naturalmente isso afetaria a proporção numérica futura entre os sexos na formação acadêmica nas áreas de pesquisa. Possivelmente isso seja consequência mais de preferências biológicas e psicológicas distintas entre os sexos do que coisas como patriarcado e opressão. Por exemplo -- na média da população--, as mulheres tendem a ser mais adversa ao risco, preferem profissões menos competitivas e são emocionalmente mais expressivas.
Há evidências que apontam nesse sentido. Diferenças de personalidade entre homens e mulheres são maiores e mais robustas nas sociedades industriais mais prósperas e avançados como EUA, Canadá e França. Os países com alta expectativa de vida, altos níveis de alfabetização, educação e renda são susceptíveis de ter as maiores diferenças entre os sexos na personalidade. Provavelmente porque a prosperidade e igualdade trazem maiores oportunidades de autorrealização; assim, homens e mulheres têm o poder de ser quem mais realmente são (*). Não parece por acaso, portanto, que alguns dados apontam que há mais mulheres engenheiras na Rússia e na China do que nos países com maior igualdade de gênero. As mulheres americanas e europeias estão entre as pessoas mais educadas, bem informadas, e autodenominadas em toda a história da humanidade. E é plausível a defesa que na Rússia e China há mais mulheres em áreas das exatas muito mais por imposição do que por escolha livre (aí sim a tese do fator cultural parece ser preponderante).
A Noruega, um dos países de maior IDH, continua mostrando tendência para mulheres seguirem carreiras que envolvam mais contato com pessoas (por exemplo, enfermeiras) e os homens carreiras mais solitárias (por exemplo, cientistas) -- e isso vai ao encontro de que estas pessoas encontram um terreno que facilita a manifestação de seus verdadeiros interesses.
Outra linha de evidência (**) sugere que mulheres ao redor do mundo, mesmo em países onde os diferenciais sociopolíticos são grandes e há menor igualdade para a mulher, estão ganhando de homens em ciência e literatura. Em média, alguns dados mostram que os rapazes têm resultados educacionais piores do que meninas ao redor do mundo, independente dos indicadores socais de igualdade.
Portanto não é óbvio que toda diferença por gostos e atividades é derivada da cultura. Embora a cultura possa endossar papéis de gêneros parece que a biologia e a psicologia também desempenham algum papel relevante nisso.
Acredito que uma boa sociedade é aquela definida com elevado nível de satisfação, e não tanto com preocupação insistente em paridade estatística. Se os estudos preliminares estão certos, a igualdade de oportunidades é mais relevante do que igualdade de resultados entre homens e mulheres. É uma questão de respeitar e acomodar as diferenças individuais.
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Fontes
(*) http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18712468
(**) https://www.sciencedaily.com/releases/2015/01/150126125015.htm

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